8.4.18

drágeas

joguei longe:
os comprimidos já usados,
terminados.
calmantes leves,
caem ao chão, sem peso.
quando mirava ao lixo aberto.

tanta poética para algo tão simples...
o corpo parece ainda dolorido, cansado.
em contrapartida sente-se remediado.
por hora nem consegue chorar nem sorrir, vive.

vê, o rio que em ti perpassa parece tão distante.
ele está seco, por dentro da estrada cimentada.
é assim que está.
seu percurso ainda é irreconhecível, incerto.
segue o fluxo do cotidiano temporário.

tempo, horário. cumpre funções, ações em pé,
sem muita complexidade, permanece ali.
passam dias, noites, sóis, luas...
senta-se, sente que há estrelas no céu
mesmo sem enxergar sua luminosidade.

a sala está escura, fechada.
vamos tentar dormir, conversar um pouco mais.
o som continua o mesmo. mântrico, aconchegante.
percebe que este tal vivenciar é entender o equilibrio
dos opostos, ou talvez uní-los:
a claridade da cor preta com a escuridão branca.
o movimento do cansaço, com a estagnação da euforia.
o bagunçar, arrumar, limpar, comer, se cuidar.
são tantos verbos parecidos para por em ordem...

chega, é melhor pararmos por aqui:
quando já não há palavras para definir, o já.
o existir, de fato, perde-se na falta de atenção
quando viramos para o lado, quando respondemos uma mensagem qualquer,
quando esquecemos e lembramos de respirar.

quando, na verdade, só procuramos de algum modo
nossa paz de espirito, nosso auto-controle cheio de
manuais invisíveis.

essa sou eu, na espera de alguém que queira ler a bula,
quem sabe entender como funciona, para conviver, coexistir.

para mais uma nova cartela reexistir.

não esqueça da receita, ela está sem data, não há problema se atrasar. 
apenas, não a esqueça porque as cópias já estão fracas, mal se enxerga nitidamente.
guarde em algum lugar que saberá voltar para buscar.
se precisar, estarei aqui. 
até mais ver.

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