31.10.18

Lorena


sentou se em um banco de madeira,
em frente a uma loja de vestidos finos.
sentia seu coração apertado meio dilacerado,
rasgando os fios daquelas roupas que não podia - nem queria comprar.
na verdade isso nem importava, o aperto vinha de indecisões que sempre voltavam em sua mente.
desde os amorosos, familiares, trabalho e estudo, casa, política, liberdade.
sim, tudo se misturava, mas no momento este tudo estava encaixotado em guarda-móveis.
em modos de espera.
observou um elástico no chão, parecendo um laço cortado, ao lado de pedras. talvez, mesmo sem sentido fazer, era como se sentia.
a distancia e a presença aos seus pés, as enrolações e as respostas estagnadas em seus dedos.
vamos ter alguma resposta, eles gostam muito de você Lorena, te acham sempre tão fofa, mesmo que seja o nome de uma rua, alameda tão banal. passam por ti todos os dias, daqui a pouco estaremos longe também. ate breve.

20.5.18

pensamentos a v o a d o s

nunca gostei de ventanias
chuva muito forte
alagamentos
queimadas
depois vem a calmaria e o sol

e todos essas pragas que a natureza faz naturalmente para nos alertar, das maldades,
nos lembrar dos medos, das inseguranças, de como algo que fazemos ´´errado´´ volta contra nós.
nesse eterno equilbrar-se, transmutar-se a independencia e voltar denovo ao estado que estavamos.
de estar bem depois pra baixo,
o enjoo acontece junto a ansiedade.
precisamos lembrar do corpo, de respirar, antes que piramos de vez ou outra.
assim como no conto mitologico da pandora, quando abria a caixa com todos os males do mundo,
por curiosidade, por impulso imediato, e depois de perder todos seus poderes,
o unico que sobrou que restou no fundo da caixa ou vaso,
foi a esperança, sozinha e vital, permanece sempre lá.
aiai, aleluia uns dizem, outros que os males vem para o bem,
na verdade eles sempre estão se (des_equilibrando) a todo istante, um no outro,
feito a carta da temperança.
nas cartas de tarot, é um anjo feminino com vestes da realeza, trocando as aguas de um copo para o outro. união dos opostos. ate conseguir a serenidade. esta serenidade enquanto estamos limpos, sobrios, sãos.
um tratamento é preciso para voltar ao normal. me pergunto, o que é normal?
nao é vergonha pedir arrego quando estamos mal. sao tentativas, são conquistas momentâneas.
para pensar aonde ir, aqui ou viajar, num canto só.
vou melhorar o quanto antes, eu sinto.
desacelerar.
me vou.




8.4.18

drágeas

joguei longe:
os comprimidos já usados,
terminados.
calmantes leves,
caem ao chão, sem peso.
quando mirava ao lixo aberto.

tanta poética para algo tão simples...
o corpo parece ainda dolorido, cansado.
em contrapartida sente-se remediado.
por hora nem consegue chorar nem sorrir, vive.

vê, o rio que em ti perpassa parece tão distante.
ele está seco, por dentro da estrada cimentada.
é assim que está.
seu percurso ainda é irreconhecível, incerto.
segue o fluxo do cotidiano temporário.

tempo, horário. cumpre funções, ações em pé,
sem muita complexidade, permanece ali.
passam dias, noites, sóis, luas...
senta-se, sente que há estrelas no céu
mesmo sem enxergar sua luminosidade.

a sala está escura, fechada.
vamos tentar dormir, conversar um pouco mais.
o som continua o mesmo. mântrico, aconchegante.
percebe que este tal vivenciar é entender o equilibrio
dos opostos, ou talvez uní-los:
a claridade da cor preta com a escuridão branca.
o movimento do cansaço, com a estagnação da euforia.
o bagunçar, arrumar, limpar, comer, se cuidar.
são tantos verbos parecidos para por em ordem...

chega, é melhor pararmos por aqui:
quando já não há palavras para definir, o já.
o existir, de fato, perde-se na falta de atenção
quando viramos para o lado, quando respondemos uma mensagem qualquer,
quando esquecemos e lembramos de respirar.

quando, na verdade, só procuramos de algum modo
nossa paz de espirito, nosso auto-controle cheio de
manuais invisíveis.

essa sou eu, na espera de alguém que queira ler a bula,
quem sabe entender como funciona, para conviver, coexistir.

para mais uma nova cartela reexistir.

não esqueça da receita, ela está sem data, não há problema se atrasar. 
apenas, não a esqueça porque as cópias já estão fracas, mal se enxerga nitidamente.
guarde em algum lugar que saberá voltar para buscar.
se precisar, estarei aqui. 
até mais ver.

30.1.18

sobre o ato de registrar e outros fatos

a ventania
as cores e dores do vento

o sentir feito sina
o sono e a falta de

[...]